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A Violeta

Eu moro em Porto Alegre. Mas sou de Florianópolis. Quando a família ouviu eu dizer
isso, se sentiu acolhida. Eles eram de Balneário Camboriú. Ficaram felizes em
encontrar alguém de seu estado em um momento tão difícil. A mãe havia internado
para a retirada um câncer e estava com deiscência de sutura com exposição da tela de
polipropileno que havia sido implantada para corrigir uma hérnia abdominal. Ferida
muito grande, drenando muito, com odor forte. Ficou vários meses internada na
“minha unidade” para tratamento da ferida e do câncer. O marido, também já com
idade avançada, era seu acompanhante. Na verdade, tínhamos dois pacientes, pois
não poderíamos deixar de acolhê-lo.
As filhas vinham a cada período, se revezavam para dar o suporte necessário aos pais.
E ela melhora e daqui a pouco piorava. Um dia fazendo o curativo, conversamos sobre
licores. Ela gostava de um licorzinho após o almoço, quando estavam em casa. Nem
pensei duas vezes. Peguei uma garrafa de bolso do meu marido, coloquei um
pinguinho de licor e levei para os dois beberem e comemorarem em um pós almoço.
Felizes. Rimos bastante, porque servi em um copinho de café de plástico que nos
hospitais usávamos para separar a medicação. Nada romântico. Mas serviu para
aconchegar esses dois velhinhos queridos.
Ela então começou a piorar e seu quadro não reverteu mais. Fiquei muito triste. As
filhas me ligavam preocupadas com o pai, que estava sozinho no momento do
falecimento.
Então passei meu plantão e desci no morgue para acolher e dar a mão ao esposo
enlutado. Para minha surpresa, toda a equipe de técnicos de enfermagem que
trabalhavam na “minha equipe” estavam acolhendo o senhorzinho que já não estava
sozinho. Ficamos todos aguardando as filhas chegarem.
O Verdadeiro líder mostra para a equipe como fazer. Não manda, faz junto. Sempre
falei que o enfermeiro é o espelho da sua equipe. Foi isso.

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