WhatsApp

Blog

Veja nossas postagens

História cinzenta de um outubro rosa

Uma mulher forte, feliz, bem resolvida com a vida e linda. Envolvida e dedicada ao seu trabalho e a sua família. Poderia ter sido uma história rosa de um outubro rosa. Mas não foi.....
De repente a notícia que ninguém espera que aconteça consigo. Uma mamografia alterada. Mais exames, punção. E a confirmação. É maligno e tem que retirar toda a mama. Um choque inicial e a coragem de sempre. Vamos lá. Fazer logo, para se livrar do que é ruim.
Tudo certo com a cirurgia. Dois problemas no pós operatório: fizeram implante de prótese somente na mama afetada e ela fez cirurgia bariátrica e ficou com as mamas com formatos diferentes, posicionadas uma para baixo e outra para cima. E a aréola da mama com a prótese está com toda a sutura necrosada. E é aí que eu entro nesta história. Uma amiga em comum me enviou a foto da mama com a sutura toda preta e eu orientei que procurasse o médico para que retirasse os pontos, pois o risco de perder a aréola e o mamilo era bem grande. Suturas muito apertadas podem causar redução do aporte de sangue para o local e com isso aparecer a necrose. Resposta do médico: não retirou os pontos porque iria abrir toda a sutura. Sim, bem possível e até provável. Mas seria bem melhor que perder toda a aréola e o mamilo. Como não retirou, aconteceu o previsto, necrosou tudo. Fui pessoalmente avaliar e a tristeza de ver aquela mulher com toda a aréola e mamilo necrosados transpareceu em meu olhar. Disse a ela que teria que retirar todos os pontos e que não havia mais o que fazer. Perdeu a aréola e o mamilo e tive que tratar a ferida que se formou abaixo do que foi retirado. A lesão fechou. E agora?
Neste momento questiono como pode um profissional não avaliar a auto estima de uma mulher com câncer, que irá perder a mama. Que legal colocar a prótese no mesmo momento cirúrgico da retirada deste câncer. Mas porque já não colocou nas duas mamas? Certamente auxiliaria que ela melhorasse seu amor por si mesma, neste momento tão difícil. Talvez se houvesse empatia ou simpatia do médico pela paciente ele tivesse olhado além da pele e enxergado a alma desta mulher, que agora se sente mutilada pelo câncer e pela vida.
Olhar além da saúde e da doença talvez nos tire da posição de poderosos que as escolas e a vida nos ensinam. Assim provavelmente enxergaremos as almas, dores, amores e bem mais além, daqueles a quem fomos predestinados a auxiliar em momentos árduos e penosos de sua vida.

Receba novidades