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Todos podemos ser paciente um dia

Meu tio estava internado em fase terminal de uma doença vascular. Tudo começou quando uma noite, sozinho em casa, teve uma rotura de um aneurisma abdominal. Nem sabia que tinha. Passou mal. Chamou o porteiro do prédio para ajudá-lo. Veio a ambulância e o levou para a emergência de um hospital privado. Foi chamado o cirurgião vascular particular para atendê-lo. Tudo resolvido. Mas depois disso passou a ter várias obstruções arteriais nas pernas. Tudo isso como consequência de uma escolha feita por ele de ser tabagista pesado.
Ficou com sequela para caminhar. Já não tinha mais a mesma cognição para discernir sobre a vida, mas continuou morando sozinho, por escolha, pois os filhos, sobrinhos, irmãos e amigos eram muito presentes na sua vida. Era uma pessoa do bem. Maravilhoso. Triste. Havia perdido o grande amor de sua vida para um câncer, contra o qual lutaram por cinco anos. A vida certamente perdeu o brilho para ele.
Após alguns anos na batalha para permanecer junto a nós, o perdemos para a doença arterial.
Eu estava lá na sua última internação. Pertinho dele e de sua filha. Um sábado pela manhã, a intensivista de plantão, que já o conhecia de outras internações, chamou a família para conversar. Todos sabemos o que isso significa. O prognóstico é ruim, não tem mais o que fazer, ele está sofrendo. Conversamos com a médica, estávamos eu, a filha, uma irmã, um irmão e o genro. Todos nos apoiando em um momento tão difícil como é a perda de alguém que amamos. Ele estava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Como sabemos, na maioria das instituições hospitalares, somente podem entrar uma ou duas pessoas, em um ou dois horários de visita. Felizmente em várias instituições isso já mudou e várias delas hoje já permitem acompanhante durante as 24 horas. para todos os pacientes. Neste hospital ainda tínhamos a primeira opção, duas pessoas por horário, em dois horários diários.
Ele ia morrer!!! Mas a enfermagem foi incisiva, “somente duas visitas”. Nós éramos cinco. Só queríamos nos despedir. Resolvi então falar com a colega enfermeira para que permitisse o nosso Adeus. Com muita resistência e após eu falar com todas as letras, “nós sabemos que ele vai morrer”, ela permitiu que entrássemos dois de cada vez, por cinco minutos. Quando a técnica de enfermagem nos viu entrando, quis nos expulsar, ficou furiosa com a permissão concedida pela enfermeira.
E ele morreu dois dias depois. Choramos e rezamos pela perda.
É preciso pensar que todos podemos ser pacientes um dia. As histórias de vida daqueles que cuidamos importam!! Sempre acreditei que aquele profissional que tem segurança nas atividades que desenvolve quer trazer a família do seu paciente para perto. É o momento de acolher, ouvir, ensinar, capacitar para o cuidado e demonstrar que nos importamos com aquele a quem estamos emprestando o nosso tempo e o nosso conhecimento.
Humanizar o cuidado é isso.

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